desatinos #3

* Antes, leia: Desatinos #1 e Desatinos #2 e Convivência

** A prática dos últimos 10 meses. Aos amigos, peço paciência.

*** Recomendo que leiam: 20 Sentences People with Depression Hate Hearing The Most

Muito da minha recusa em conversar com as pessoas sobre os meus estados, para além da questão de que me expresso melhor quando escrevo, parte do fato de que, salvo pouquíssimas exceções, elas sempre falam mais do que ouvem. Não contentes em dar opiniões sobre o que desconhecem, caem no limbo de frases motivacionais que mais servem para cavar ainda mais meu chão do que me impulsionar a avançar. Os meus eus se sentem ainda mais culpados. As vozes que me perturbam se confrontam agitadas na mente. Ainda que eu ache legítima essa postura das gentes, tendo em vista que, talvez, sejam mecanismos para evitarem pensar nas próprias vidas ou porque, realmente, a vida alheia só interessa se podemos opinar sobre elas; quero ressaltar que vocês estão fazendo isso errado, nada disso ajuda.

Você não me diz para sair dessa e seguir em frente. Que a vida é dura, mas que ela continua. Muito menos que existem pessoas em condições piores do que a minha e que eu deveria agradecer pela vida que tenho, porque afinal todos têm problemas. Que eu deveria me animar, sair de casa, fazer compras e divertir-me, ou ao menos tentar… Ah, você também não me venha dizer que eu deveria me esforçar mais para melhorar. O mesmo vale, para todas as vezes que você quiser me convencer de que eu tenho que parar de sentir pena de mim mesma. Ou que eu estou mais introspectiva e sensível, como se tais fossem defeitos. Também, não me diga que sou forte e que tudo ficará bem. E, que quando meu mundo cair, eu posso te ligar.

Quando você me diz todas essas frases com facilidade, como se me contasse histórias triviais, eu sinto um misto de inveja e culpa e incapacidade juntamente com aquele desespero infindável que faz se projetar na minha cabeça uma voz que diz que eu sou NADA, que a vida significa NADA, então, o Mundo também sendo NADA, não é um Mundo que valha a pena permanecer.

Todas as vezes que você me diz para sair de casa e eu digo que não tenho vontade e, ainda assim, você insiste: eu me sinto a pior das pessoas existentes no planeta. Não é vitimismo, é apenas a sensação de que sair de casa não me agregará nada. Já disse em alguns textos passados o quão exaustivo para mim é sair com muita gente. A encenação me gasta. E, fingir ser alguém que não sou, exige de mim mais força do que eu tenho.É uma cobra se enlaçando no meu pescoço, como se tal fosse sua presa… O distanciamento que me coloquei das gentes é auto-cuidado. Não mais farei de mim o que querem, mas apenas o que me quero.

Se você soubesse o mal-estar que me coloca, jamais diria essas frases. Pois, não é como se eu quisesse estar assim. Se eu pudesse, teria uma rotina emocional equilibrada que me deixa viver o mundo. Contudo, não sou assim. Se eu pudesse, minha cama e as paredes do meu quarto não seriam as pessoas que mais me vêem. Eu queria poder ter forças para todas as vezes que eu quero sair de casa. Não é como se eu tivesse gostado de, ontem mesmo, ter ido ao jardim para fumar meu cigarro e não ter conseguido, porque o mundo me oprime e eu sinto medo de vivê-lo. O meu quarto parece-me que é o lugar mais seguro de toda a face da Terra.

A solidão, se por um lado parece o monstro mais abominável para alguns; para mim, ela é a melhor das companheiras. Todavia, você ainda me vira e diz que as pessoas me querem bem, que elas estão tentando me ajudar, que elas… Eu apenas respiro fundo. Mesmo achando dúbia a sua sentença, eu não duvido que, até certo ponto, exista gente preocupada. No entanto, como esperar empatia de gente que não sabe o que se passa comigo? Como esperar empatia de gente que nem ao menos pergunta se estou bem? Aprendi neste tempo que me mantive longe – para que assim eu consiga juntar todas as partes de mim que foram ficando ali e acolá -, que não quero mais relações particionadas, posto que eu já me quero em minha totalidade. Mais a vale a solidão sabendo-se que é um sozinho do que a eterna ilusão de que estamos rodeados de gente.

Eu não sinto falta da vida que levava. A minha clareza de realidade tem sido um risco, concordo. Porém, o Mundo continua girando.

4 thoughts on “desatinos #3

  1. Eu prefiro ouvir e confesso que sempre que alguém me pede para comentar o que foi dito, sofro. Não tenho opinião que possa ser entregue ao outro, tenho apenas silêncio e respeito pelo que veio até mim. Geralmente é alimento para um escrito, mas se é para dizer algo, eu digo com algum receio: vá até o fim. Viva seus sentimentos até o limite. Sofra até a última gota e não faça nada que não queria fazer. No mais é apenas geografia das coisas e suas causas,

    Bacio

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  2. Muito difícil saber o que dizer nessas alturas… Não posso dizer que compreendo, mas posso dizer que já passei por aí perto, perto dessa situação, e não é mesmo nada agradável. Força!

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